terça-feira, 17 de maio de 2016

QUANDO DESCOBRI QUE LAR NÃO É UM LUGAR...


Sabe aquele dia que dá tudo errado? Parecia um 30 de Fevereiro... os astros não estão alinhados, os "exu-caxumba" estão inspirados e pulando no teu cangote, tudo que tu fala é interpretado de outra maneira ou sai errado...

Tivemos uma das piores brigas. A pressão sanguínea sobe, o tom aumenta, palavrões são soltos... aí quem achava que tinha razão, acabou de perder. Não quero mais ficar ali com ela. Pego a minha chave, meto na porta! "Peraí, eu moro aqui! Quem tem que sair é ela!". Mando ela embora! Aí ela fala: "Eu moro aqui, sai você!". E ela tinha razão, ela também mora lá... e agora?!

Traço a maior diagonal possível dentro do apartamento, partindo dela, e me encolho na outra ponta. Penso na Maria da Penha! Maldita! Fico ali só nos pensamentos "suicidas", vem só troço ruim na cabeça quando estamos com raiva... muita raiva! Amor, paixão, tesão, respeito... tudo passa num estalar de dedos! Penso em divórcio...

Pressão arterial vai baixando... já não vejo tudo em tons de vermelho e cinza... já começo a ouvir alguma coisa além da minha voz... um anjo deve ter passado ou acabado de chegar.

Por que que eu ainda estou aqui morando com esse filhote de capiroto? Mulher escrot@, baixa... Deeeeez anos da minha vida jogados foooora ao lado dessa maluca! Deeeeeez! Dez anos é tempo pra caralh@! Porr@, dez anos é muuuuuuuito tempo! É muito tempo mermo! Dez anos... Dez... Cacete! Lembro que há dez anos atrás eu cheguei em casa uma vez, ainda morando com meus pais, e minha mãe falou: "Tu tava com a Cecilia, né?" e eu disse: "Estava... por que?" e ela: "Tá com a maior cara de babaca..." e eu ficava mermo. Eu era muito trouxa... mulher escrot@ (a Cecilia, não minha mãe)!

E teve um dia que estava resenhando com a galera do trabalho depois do almoço, aí chega ela com a esposa de outro amigo e pegam a gente conversando sobre putaria. A mulher do cara deu um esporro desconcertante no maluco. A Cecilia chegou no meio da roda e falou: "Tu fica vendo essas paradas e nem me chama?". É ou não é pra louvar de pé? Nunca precisei ser outra pessoa na frente dessa cretina!

E quando eu não aguentava mais a faculdade? Já tinha praticamente desistido. Essa desgraçada levantou minha moral, me mostrou e falou tudo que meus pais falaram há anos, mas dessa vez eu não sei porquê levei a sério... Parecia encantamento de sereia. E terminei a faculdade por causa dela. E terminei e concluí muitas coisas na minha vida por causa dela. Ela me fez e faz uma pessoa melhor... garota nojenta, desprezível!

E as vezes que nós ficávamos horas conversando sobre qualquer coisa e do nada o assunto acabava e ficava aquele silêncio... e pela primeira vez o silêncio não incomodava! Tu sabe quando o silêncio não incomoda? É muito bom... eu ficava totalmente confortável... como eu odeio ela!

E fiquei ali, do outro lado da "diagonal", tentando pensar em algo escroto, algo ruim pra alimentar o que estava sentido depois dessa briga, mas nesses dez anos eu só tinha coisa boa pra falar dela... e pensar em tudo que passamos juntos, tudo que construímos, nosso filhos, todas as viagens, momentos engraçados. Ela atura meus bonecos, meu basquete, meu Xbox, meu "bom humor" matinal... atura minhas brincadeiras fora de hora (ou quase todas), ela é muito escrot@, maluco! Não me merece! Totalmente desregulada!

E fiquei ali pensando... pensando... e resolvi pensar no futuro, porque no passado não estava me ajudando muito. Consegui ver uma parada meio que colônia de pescadores, porque tinha redes de pesca na areia para serem remendadas. Consigo ouvir os atobás e gaivotas... muitos! Estou numa varanda, sentando numa cadeira de balanço velha, balançando... Consigo ver um bolo de serragem junto de uma vassoura no canto da varada e fico feliz que ainda mexo com madeira naquela idade. Sinto aquela brisa maneira batendo no rosto... cheiro de maresia (maresia mesmo, do mar, nada dessa besteira que vcs fumam não). Tem um pastor alemão velho deitado em cima do meu pé... não consigo lembrar o nome dele... ai ouço passos lá dentro de casa vindo pra varanda, parece alguém mancando... olho pro lado e vejo uma mão toda enrugada, trêmula, segurando um copo de chá mate estupidamente gelado, com uma rodela de limão e muito gelo. Lembro que o copo suava! E olho pra cima, aquele braço só pelanca, roupa velha e desbotada... vou subindo e vejo aquela boca que já não tinha tantos dentes como tem hoje, e quando olho o resto daquela carranca, quem era?! Era o raio dessa mulher infernal!!! Jesus!!! E eu sorri, cara... sorri pra ela e me peguei sorrindo na ponta daquela diagonal.

Foi nesse dia que eu descobri que lar não é um lugar e sim uma pessoa... "meu lar é você, Cecilia", penso.

Aí volto que nem cão arrependido... dou um abraço nela, ela ri... aí já viu, né? Fazer as pazes sempre é muito bom depois de uma briga dessas. Uma coisa leva a outra,a parada vai esquentando... quando fui ver, ela já tinha ligado pra Domino's! Essa filha da put@ me conhece mermo!!!

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