terça-feira, 31 de maio de 2016

CURSO DE PADRINHO


Até agora me pergunto o porquê de alguém dar uma criança, pura, recém-chegada nesse mundo, para dois perturbados mentais, como eu e Cecilia. Mas enfim, deram e a Cecilia aceitou. Eu como já sou padrinho desnaturado há anos (e estou em dívida eterna com você, Vini), achei que ninguém mais me escolheria, mas as pessoas continuam errando...

Depois de três tentativas, conseguimos agendar o tal do curso. Lembro que quando fiz esse curso em mil novecentos e alguma coisa, o "palestrante" era um coroa que falava enrolado, sala escura, acho que metade era em latim. Hoje? Hoje os caras oferecem biscoitos amanteigados, café, tem retroprojetor e caneta laser. Aaaah, a tecnologia!

No dia do curso, chegamos atrasados porque a Cecilia quis passar no Habib's pra levar um "lanchinho" pro curso. Chegando lá, só tinha lugar livre na primeira fileira, ficamos praticamente na cara do sacerdote. Aí quando tinha que interagir, quem que ele chamava pra participar? Rá! E a Cecilia ficou um tempão esperando ele focar na galera do fundo pra começar a comer sua esfiha... foi ela levar em direção a boca, o cara olhava pra ela. Aí ela descia a mão da esfiha. O sacerdote olhava pro fundo, ela ia comer e quando tava quase dando uma mordida, o maluco olhava pra ela de novo. Tenho pra mim que ele fazia de sacanagem. Lá pelas tantas, ela mordeu, caiu queijo, o cara encarou, ela cagou pra ele e ainda abriu a garrafinha de suco de laranja fazendo um "pop" alto quando o lacre da tampa rasgou. Sempre ela, cara!

Enquanto o sacerdote ia falando, notei que ia juntando aquela babinha nos cantos da boca e pensei: "Já já isso vai pular daí!". Não deu outra e quando aquilo saiu, veio na direção de quem estava na primeira fila, óbvio! E quem estava lá? Rá! E não sei se por retaliação à ela ter comido na frente dele, a parada foi certinha na direção dela. Mas ela estava manjando aquela babinha faz tempo também. Em milissegundos botou a mão na frente da esfiha e deu um pulinho pro lado. A babinha tirou tinta da trave, mas foi pra fora!

E no final do curso, o cara me puxa um "Ave Maria". Fiz catecismo, eu sei a letra. E achava que a Cecilia sabia também, afinal de contas, é a terceira vez que ela faz esse curso!

Ela: Ave Maria, Nossa Senhora...
Eu:: Oi?
Ela: Que? Não é Ave Maria?
Eu:: Ave Maria é! Não é Nossa Senhora...
Ela: Se não é nossa, é de quem?
Eu:: Não debocha, cara...
Ela: Ave Maria, Senhora...
Eu:: Pára, não zomba... se eu sou Deus, se eu sou Nossa Senhora, te mandava um raio agora! Canta direitinho... Ave Maria, cheia de graça...
Ela: Ave Maria, cheia de graça, bendito é o vosso ventre...
Eu:: Eita, cara! Na boa, taca ai no youtube, aprende a letra porque tu vai cantar no batizado...

E na volta da igreja pra casa, ela andou sete quarteirões, seeeeeete, tentando cantar o Ave Maria e não acertou um! Como pode?! Chegando em casa ela não sossegou, não queria pegar da internet, queria que eu ensinasse. Eu ia soltando aos poucos e ela ia corrigindo... aí do nada, quando chegava na metade, começou a errar o início de novo...

Fui no banheiro e ela veio atrás de mim, me perguntando...

Eu: Cara, na boa? Deixa Nossa Senhora lá fora... deixa eu cagar em paz...
Ela: Só me diz o que vem depois de "Rogai por nós, pecadores..."
Eu: Cata na internet, cara... não aguento mais isso não... tava engraçadinho isso no início, tá um saco agora... cata lá...

E do nada, ela começou a cantar dando aquela entonação que o padre Marcelo Rossi dava quando mandava o terço. Tipo assim: "Ave Maria, cheeeeeeeeeeeia de graça! O Senhor é convooooooooosco!

Eu:: Faz o seguinte, manda um áudio no zap aí pra tua comadre, canta aí pra ela pra ela sentir o drama...

E ela mandou. A comadre entrou em desespero, óbvio. No final da letra, ela ainda mandou assim:

Ela: Agora e na hora da nossa morte, vai com Deus!
Eu:: Oi? Vai com Deus?!?! Parou!

Coitada dessa criança que vai ser batizada...

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