segunda-feira, 25 de abril de 2016

TENTANDO JOGAR ONLINE


Quem joga online sabe a logística que é para conseguir conciliar o videogame e filhos. O cenário ideal é jogar com todo eles, inclusive a patroa, dormindo. Como esse cenário só acontece igual a visita do cometa Halley, de 70 e poucos em 70 e poucos anos, a gente tem que fazer mágica. E pra jogar com eles acordado, ou tu joga joguinho de criança, classificação livre, porque não dá pra ficar explodindo cabeça de zumbi nem atropelando e atirando em todo mundo na frente deles, ou tu dá um controle sem pilhas e mente dizendo que eles estão jogando também (quem nunca?). Mas já já eles percebem, a patroa briga dizendo que não é hora disso e tu resolve desligar tudo porque o videogame está te estressando mais ligado do que desligado.

Enfim, lembrei de uma noite, quando a Rafa ainda era bem pequena (não existia Dudu)... Devia ser algo em torno de 22 horas. Patroa ali de bobeira, eu também... Já tinha dado a intenção de que queria jogar alguns minutos antes, mas resolvi dar uma investida pra ver se rolava alguma coisa, já que a Rafa já tinha apagado.

Eu: Bora?
Ela: Tu não vai me comer pra depois jogar essa merd* não!
Eu: Que que uma coisa tem a ver com outra?
Ela: Mas não vai mermo! Escolhe!

Era dia de cometa Halley, parceiro! Eu escolhi! Peguei meu controle e a patroa foi para o quarto. Com as duas dormindo, peguei meu FIFA zerado na caixa que havia acabado de comprar. Todos os meus amigos falavam de uma tal Copa para jogar online. E como vocês sabem, jogo online não tem pause. Parou, perdeu! Ou tu toma tiro e morre, ou tu toma gol e perde. Sabia que se começasse a jogar uma Copa, que deviam ser uns 4, 5 jogos diretos caso ganhasse todos, eu ficaria "impossibilitado" de dar uma atenção em casa por no mínimo uma hora e meia...

Resolvi arriscar! Fui antes no quarto das duas, ambas dormindo gostoso! Entrei na Copa, fui dando "next" até começar a primeira partida! Bagulho tenso, rapá! Era novidade, era Copa do Mundo, vivi aquele momento como se fosse "a vera"! Eu jogando com Brasil e logo na primeira partida uma criança do outro lado falando fino jogando com a Argentina. Ouvia o moleque conversando com a mãe pelo meu headset. Moleque fez um gol e começou a me zuar pelo microfone! Eu que "sempre" fui calmo, tive que me conter porque qualquer barulho que pudesse acordar a Rafa colocaria toda a Copa em risco. Aos 38 do segundo tempo, empato o jogo e fico xingando o moleque baixinho! Ele xinga de lá, ouço a mãe dando esporro porque ele estava descontrolado com a boca suja. Fomos para os pênaltis, e aí comemorei alto quando ele chutou a última bola pra fora me dando a vitória!

Cecilia: "Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiu! Porr*, Razão! Olha o barulho, cara!"

Ah que merd*! Quem comemora baixo um jogo de Copa do Mundo?

Passei para a próxima fase e foi só jogo complicado. Depois de muita pressão, muita adrenalina, muito gol cagado, fui ganhando e subindo os degraus na tabela até chegar ao grande jogo, a final! Nem acreditei porque FIFA não é meu forte. Mas fiquei orgulhoso já pensando no troféu que eu poderia ganhar e esfregar na cara dos meus colegas no dia seguinte.

Enquanto carregava o jogo da final, eu já podia ouvir meu adversário pelo headset. "Essa voz fina não me é estranha...", penso eu. Quando começa o jogo, Brasil x Argentina! "Caraaaal**, é o filhotinho de capiroto de novo!". Já mandei logo um "Não foi escovar o dentinho pra dormir não, neném?" e ele já começou a xingar muito lá do outro lado. A mãe do moleque reclama de novo do boca suja. Vi que tinha conseguido mexer com o psicológico da criança e estava satisfeito de começar o jogo em "vantagem". Assim como foi o primeiro jogo, foi tensão direto, várias oportunidades de gols perdidas de ambos o lado. Até que faço um gol lindo com uma bica de fora da área! Aí o garotinho foi a loucura! Xingou muuuuito! A mãe reclamou com ele de novo e o moleque estava inconsolável! E aí do nada... do nada... um som de choro baixinho lá do quarto da Rafa. "Não é possííível que ela vai fazer isso comigo na final!!". E fez! O choro aumentou, fingi que não ouvi tentando ver se a patroa se sensibilizasse e fosse lá acudir. Já havia começado o segundo tempo e aí do outro quarto vem:

Cecilia: "Razããão!"

Finjo que não escuto.

Cecilia: "Razããããããooooooo!!!"

E agora ela acordou metade do prédio...

Eu: "Que?!" (fingindo que não sabia do que se tratava)
Cecilia: "A Rafa..."
Eu: "Oi?!" (Precisava ganhar tempo, faltava todo segundo tempo e eu estava ganhando!)
Cecilia: "A Rafa está chorando... vai lá!"
Eu: "Já vou..."

A Rafa continuou chorando, e era aquele chorinho de manha, eu sabia que não era nada. Só precisava ganhar só mais alguns minutos...

Cecilia: "Razããããããããããããããããoooo!!"
Eu: "Já vou! Tô jogando.. rapidinho!"

E quando mencionei o "Tô jogando", foi como se falasse: "Belzebú, te desafio e invoco a tua fúria".

Cecilia: "Foooooood*-se o jogo! Vai lá ver tuuuuuuua filha!"

Não fui. Rafa continuava chorando, eu olhava para o relógio e os minutos não passavam! Ouço passos. Vejo uma névoa cinza com raios vermelhos vindo do corredor, aquele cheiro de enxofre... Satanás reencarnado aparece na sala! Ela em pé na porta do corredor, com a cara toda amarrotada me fuzilando com os olhos em chamas!

Cecilia: "Vai lá ver tua filha A-GO-RA!"
Eu: "Tô online, Razão! Não tem pause aqui! Tô jogando a final da Copa!"
Cecilia: "Enfia essa Copa no c***************, seu filho da pu******! Vai ver a sua filha!"

E pedindo assim, com jeitinho, eu fui... Perdi a copa por W.O. na final...

E no dia seguinte, quando entrei no Xbox, uma mensagem não lida estava na minha caixa postal. Era do meu coleguinha de voz fina: "Enfia a Copa no c*, seu otário! HAHAHA". Ela falou tão baixinho que ele ouviu pelo meu microfone. =/

E a Rafa? A Rafa não queria nada... era manha como eu disse.



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