segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O PÓS-PARTO E O RESGUARDO


Depois das mudanças de humor na gravidez e daquela sujeirada toda do parto, vem o período pós-parto e com ele o resguardo… e nessa, marido fiel se fode bonito!

Seguinte, depois que a enhaca da maternidade já saiu de você (depois de uns 3, 4 banhos), tu já não precisa mais dormir naquele sofá de lá que mal dá pra sentar, muito menos pra dormir (apesar de que vão ter dias que aquele sofá vai parecer grande depois de algumas noites com teu filho dormindo na diagonal entre você e sua esposa), a ficha começa a cair de que tu agora é pai, que tem um bebê que é dependente 24h por dia. Se você for abençoado, seu filho vai dormir várias horas durante o dia e se você for descendente ou reencarnação de Gandhi ou Buddha, ele ainda vai dormir a noite toda. O que não era meu caso, pois eu devo ser da linhagem de Judas ou Hitler, porque a Rafa só foi começar a dormir uma noite inteira só depois dos 2 anos, vai vendo.

Até os 3 meses teu filho não interage com você , não te enxerga, talvez você até consiga um sorriso mas é meio que aleatório, então pra quem é meio ansioso, essa fase é meio chatinha… são só fraldas sujas, golfadas, choro e noites mal dormidas… não varia muito disso não.

Quando tu já é casado, mora junto, já tem aquela rotina maneira, café da manhã e jantarzinho junto todos os dias, temos tempo pra cinema, um sábado inteiro vendo 30 episódios de uma série (quem nunca?), sexo com uma frequência maneira… Eu era o rei da casa, tinha opinião, ela me achava engraçado, eu ia dormir a hora que desse na telha. Não tinha hora pra acordar, mandava no controle remoto da TV… Criança chegou! Tu não dorme mais, acorda com choro, ela já não acha mais graça de nada que tu fala, TV só passa da galinha pintadinha pra baixo, tu fica neurótico com aqueles jingles infantis que entranham na mente… Sexo? Tenho uma vaga lembrança de que era algo bom… E a tua esposa? Essa eu comecei a perder na primeira ultra que ouvimos o coração do remelento batendo! E cada ultra tu perde ela mais um pouquinho… e quando vê o rostinho em 3D? Que aliás acho que deveria ser proibido, porque as mâes entram num estado de euforia, parece que estão vendo um anjo! Mas os pais enxergam um molde de massinha da cara do seu filho… um molde que parece estar derretendo! Não é legal não! Mas enfim, tu vai perdendo ela aos poucos, a atenção dela vai focando cada vez mais no bebê e tu, de protagonista, se mandar muito bem consegue um papel de coadjuvante… mas muitos eu acho que só conseguem emprego de faxineiro para limpar o set depois…

E uma coisa que eu não comentei na gravidez que acontece também no pós-parto é que algumas mulheres acham que ter filho, estar grávida, é uma doença! Não podem fazer nada… é tudo assim: “Zão, tu pode pegar um copo de água? Eu tô grávida!”, “Zão, pega minha bolsa ali em cima da mesa, rapidinho? Tô grávida!”, “Razão, pode coçar meu queixo? Essa cinta tá me matando!”… Vocês estão grávidas ou tetraplégicas!?

E tua rotina em casa funciona como turnos de uma fábrica… vários turnos! Infelizmente são só dois funcionários! Não pode ficar turno sem ninguém mas isso não impede de ter turnos com mais de um funcionário. Você fica pós-graduado em logística, porque tudo que você faz tem que pensar em todas as combinações possíveis de tudo que pode acontecer, de você precisar de algo e não ter e como teremos pelo menos um de plantão em cada turno. Sempre procurei ajudar muito em casa porque logo de cara vi o sacrifício que é pra mãe ficar de plantão em quase todos os turnos! E quantas vezes a gente falava que iria descansar quando o bebê dormisse? Tu dormia? Aproveitava pra tomar banho, limpar a golfada no chão do quarto que tu não teve tempo de limpar antes, botava roupa pra lavar, comia algo para não cair e quando via, já era tarde, a criança já estava acordada reclamando avisando que mais um turno havia começado. E lá funcionava mais ou menos assim: eu focava mais nos turnos da noite pois trabalhava durante o dia e não podia ajudar nesse horário. Tinha uma época que eu comecei a contar quantas vezes eu levantava de noite ou para pegar para mamar e depois levar de volta para o berço ou porque a malinha acordava chorando sem nenhuma explicação visível. O recorde foram 10 vezes que levantei entre 0h00 am e 05h00 am. E se alguém perguntar quando eu dormia, eu não sei responder… E meu sono que sempre foi ruim, ficou pior… acordava com qualquer barulho, até quando não tem barulho eu ia lá pra ver se estavam vivos, olhava fixamente para a barriga para ver a respiração. Todas as noites durante meses!

Depois que você começa a entender os turnos e já tem mais ou menos uma escala para a semana pré-definida (bem mais ou menos, porque sabe como são essas coisas de fábrica, né? É funcionário que falta, dá merda em produção… a gente sempre fica de sobreaviso), você vai ficando mais confortável e aí já tem tempo pra pensar em outras coisas, se é que me entendem… e aí tu, marido fiel, firme e forte ali na disciplina, querendo fazer uma graça, nem almeja muito não porque tua mulher tá toda enfaixada, playground cheio de pontos, precisando daquela lanternagem, mas tu já está com o “saco cheio” tem um tempinho … tu encara aquela mulher rindo, mesmo ela estando longe de ser aquela que falou “sim” pra tu há um tempo atrás…

E quem disse que ela quer?! E se ela quisesse?! RES-GUAR-DO, campeão! QUA-REN-TA-DI-AS!!! Quarenta dias que parecem quarenta semanas… mas tu é guerreiro, não desiste. Tu olha pra ela, ela com aquele pijama cansado com uma manchinha de golfada, aquele sutiã de amamentação da cor do band-aid, andando toda torta com as dores do parto ainda, olheiras… e tu ainda ali, querendo! E lembro-me bem da obstetra, na sua última consulta ainda na maternidade: “Pai, cuida bem dela, ok? São quarenta dias só, passa rápido! Uma paciente minha não respeitou, abriu os pontos todos e blá, blá, blá…”. E entra por um ouvido e sai por outro, né? Com uns cinco dias em casa tu já tá que tá! Já começa a olhar torto pra qualquer buraco da casa…

Eu: “Partiu?” (Usando todo aquele romantismo que o momento pede)
Ela: “Pizza? Não posso, dá gases…”
Eu: “Oi? Não, cara! partiu?” (Mordendo os lábios, tentando ser sexy e que ela entenda sem eu ter que desenhar)
Ela entende e já responde com o mesmo romantismo: “Tu tá de sacanagem, Razão?! Respeita tua filha, cara! Olha pra mim! Sete pontos externos e três internos!”
Eu sem parar para contar os pontos e apelando para qualquer coisa: “Uma rapidinha, cara! Pá-pum, pow… sério! Partiu?”
Ela já virando as costas da mão pra dar na minha cara: “Zão, sái daqui! Já colocou as mamadeiras pra ferver? Pega mais fraldas limpas lá dentro e bota mais uma almofada aqui nas minhas costas… anda, cara!”

E isso é o mais perto que eu tive de sexo nesses quarenta intermináveis dias!

Nenhum comentário:

Postar um comentário