segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
RECEBENDO OS COLEGUINHAS EM CASA
Um dia minha esposa teve a fantástica ideia de receber os “coleguinhas” dos nossos filhos em casa, para comemorar o aniversário de um deles. E que ideia, mermão! A pior da vida dela!
Quando os pais dos amiguinhos ainda não tem intimidade com os pais do aniversariante, eles combinam antes com aqueles que eles tem mais afinidade e vão todos juntos para a festa… e quando tu abre a porta, parece que a creche chegou toda de uma só vez! São 10, 15 cabeças entre pais e crianças, chegando juntos… e tu se pergunta como vai dar tudo aquilo no teu apartamento.
E a medida que vão entrando, os pais entram cuidadosos, olhando onde pisam, como se estivessem entrando em um templo sagrado… as crianças já entram como se tivesse um monstro do lado de fora, todas correndo, gritando, esbarrando nas coisas, passando as mãos na parede (e como criança adora encostar nas paredes)! E enquanto tu nem acabou de cumprimentar a primeira horda, já tem criança chorando lá dentro… Jesus!
Tu tenta receber todo mundo bem naquele espaço minúsculo. Fizemos duas mesas separadas com comidas para adultos e crianças. De um lado petiscos, amendoins, torradas com pastas, queijos e salames. Do outro iogurtes, frutas, biscoito de polvilho e bolinhos. Óbvio que os adultos entenderam e óbvio que as crianças não! Vem criança, pega uma azeitona, prova, não gosta, joga mordida de volta no prato do salame. Aí pega a torrada, mistura no rosê, prova, faz careta mas come. Pega outra, molha no rosê, pinga molho no chão, come metade e devolve a outra metade no prato das azeitonas…
O som já está ligado e baixo, para que todos possam conversar sem gritar. Mas em muito pouco tempo o barulho das crianças abafará qualquer som ambiente. Elas nunca brincam na disciplina, na social… tudo tem barulho, tem grito, tem choro!
E em 5 minutos vem um correndo lá de dentro todo sujo de canetinha na cara! E tu espantado porque tu não deixa canetinha de bobeira… “Esse moleque já chegou assim?”, Rezo para que sim! Porque caso contrário, não vou querer entrar naquele quarto. E ele vem chorando dizer que fulaninho bateu nele. E tu nem conhece fulaninho. Nem nunca viu o moleque rabiscado! E quando tu vai lá no quarto ver quem é fulaninho… pooooltaqueoparóles! Tu não reconhece mais aquele comodo da casa!
Tu olha para o chão, não sabe dizer se é porcelanato, tábua corrida ou taco… é no mínimo um palmo de altura de brinquedos forrando aquilo tudo! Parece uma piscina de bolinhas, mas com brinquedos! Todos eles! Todos os brinquedos que o teu filho já ganhou na vida com mais todos os que eu ganhei na minha vida com mais todos que ele vai ganhar nos próximos 10 anos! É muuuuuito brinquedo! E tu só vê cabelinhos e carequinhas nadando no meio daquilo tudo… e daí o moleque com a canetinha na cara aponta para um cabelinho loiro no meio daquele mar. Entro no quarto, sem querer piso em duas crianças submersas e puxo o cabelinho loiro pra cima. Ele está com um lápis-de-cera na mão, que tu também não costuma deixar de bobeira e, já cagando pra quem começou a briga, quem rabiscou quem, afasta os brinquedos e olha para o chão, onde o peste estava… pooooltaqueoparóles! Chão toooodo rabiscado!
Aí sabe em filme de guerra, quando estoura uma granada perto do ator, depois da explosão vem aquele silêncio absurdo, tudo fica em câmera lenta e as falas dos outros personagens ficam lentas e distorcidas, como se o Sylvester Stallone estivesse anestesiado com aquela boca torta e narrando tudo?!
É assim que eu me sentia! Ia olhando em câmera lenta ao redor e o som distorcido de choros, coisas caindo, coisas voando… vi alguém puxando o cabelo da minha filha (tudo em câmera lenta)! Gritei (também em câmera lenta): “Deeeeeeixa eeeeela eeeem paaaaaaz, moleeeeeque!!” soltando o loirinho no chão. Quando chego perto da minha filha, uma criança no canto do quarto corre com um lápis-de-cera na mão rabiscando a parede de uma ponta a outra! Dessa vez eu ganhei na mega-sena, pois o lápis que a criança escolheu era branco como a parede.
go bate na minha nuca e quando me viro, o Sr. Cabeça de Batata acerta direto a minha testa! Foi o loirinho, filhote de capiroto, que havia rabiscado o chão todo e batido no molequinho da cara riscada! Olho rápido para baixo procurando um brinquedo pesado para tacar nele, quando a mãe dele entra e fala um “ái, ái, ái, Joãozinho!”. E um moleque daquele sossega com um “ái ái ái”?! Olho pra baixo agora procurando algo ainda mais pesado para jogar na mãe dele! Mas entra a minha digníssima (impressionante como ela sempre aparece nessas horas que estou prestes a cometer um assassinato em massa… ela deve ser Deus) e me tira dali.
Volto pra sala enfurecido. Passo na “mesa dos adultos” e não tem mais nada que salvasse… metade das coisas mordidas, metade com molho rosê. Passo na das crianças, pego um iogurte e me sento perto dos pais que não tenho a mínima intimidade. Sorrio mas não presto atenção na conversa, só pensando quem iria arrumar aquela guerra toda. Do nada vem três crianças lá de dentro cheias de brinquedos na mão, desovam tudo na sala e voltam para o quarto para pegar mais…
Eu: “Ou! Ou! Ou! Amiguinhos, brinquedos na sala não… tem um quarto lá pra vocês!”
Molequinho: “Mas tio, não tem espaço lá…”
Eu: “Tinha! Mas vocês jogaram todos os brinquedos no chão…”
Molequinho: “Então tio, não tem como brincar mais lá…”
Eu: “Junta seus coleguinhas, arrumem alguns nas prateleiras e vocês terão espaço…”
Molequinho:: “Mas tio…”
Eu: “E leva esses daqui da sala!”
Molequinho: “Mas tio, eu…”
Eu: “Agora! Vão!”
E eles saem enfurecidos comigo, pegam 1/3 dos brinquedos e levam lá pra dentro… dá 2 minutos, voltam eles com o triplo do que levaram e jogam tudo no chão da sala junto com os 2/3 que já estavam lá…
Eu estava sentado perto de um deles, parei e calculei na minha cabeça se eu sentado ali, conseguiria chutar um deles, sem que parecesse de propósito, quando vejo, pelo canto de olho, na visão periférica, o loirinho, filhotinho de cruz credo, trepando no sofá e esticando o braço para alcançar minha coleção de carros do Velozes e Furiosos que estavam em uma prateleira atrás do sofá…
De novo a granada explodiu! Boooom! Tudo em câmera lenta!
Sylvester Stallone: “Nãããããooooo meeexeeee niiiiissoooooo, mooooleeeeequeeee!!!”
Fui muito inocente em deixar todos os meus carrinhos ali, achando que iria tirar onda com a minha coleção com os outros pais que nunca vi na vida. E já era tarde! O carrinho já estava em movimento, atravessando toda a extensão da prateleira, rumo ao precipício… e tudo aquilo em câmera lenta novamente… vejo o Mitsubishi Lancer Evolution VIII vermelho, réplica do mesmo carro usado pelo protagonista em Velozes e Furiosos: Tokyo Drift, passando em alta velocidade! Impulsionado pelas mãos daquele capeta… vai passando na frente de todos os outros carros e vai… vai… vai… até dar o salto da morte quando a prateleira acaba.
O carro cai de lado, quebrando o retrovisor do lado direito, trincando o para-brisa e lançando uma das rodas longe! Entendi como é ser o Hulk naquela hora! Me vi crescendo, veias saltando do pescoço, me viro para esmigalhar aquele merdinha quando ouço um “ái, ái, ái, Joãozinho!”. Minha mão fecha e agora me viro para aquela mãe… vem Deus novamente me puxando pelo braço e diz: “Zão, vai lá pra cozinha agora! Vai! Eu compro outro carrinho pra você!” e fala baixinho: “Pode deixar que essa vai ser a última festa aqui em casa…”
Ela mentiu! Ela nunca me comprou outro carrinho! E tiveram mais duas festas lá em casa até o momento desse post.
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