segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DO PRIMEIRO FILHO
Rafaela ia comemorar seu primeiro aniversário. Sempre fui o mais prático do casal, votei em fazer um churrascão pra galera, geral de chinelo, a execução ia ser mais barata, bem mais simples e no meu ponto de vista, bem melhor que festa infantil! Mas como sempre, lá em casa é aquela democracia:
Ela: "Razão, to pensando na festa da Rafa..."
Eu: "Pô, partiu churrascão?"
Ela: "Oi?"
Eu: "Muito melhor! Mais barato! Mais rápido! E afinal de contas, ela nem vai lembrar..."
Ela: "Oi?"
Eu: "Que?"
Ela: "Então, como eu estava dizendo, estou pensando na festa da Rafa... não sei se faço de Circo ou Safari..."
E mais uma votação encerrada! Cagou um balde! Cagou 30kg para o meu churrasco! E depois dessa festa comecei a entender que certas coisas que as mães fazem alegando que são para os filhos, na verdade não são! São para elas! E são mesmo! Quem aqui lembra da sua festa de um ano!? Ninguém! Que mal tem em fazer um churrasco?! E tu acha mesmo que a Rafaela prefere festa do que churrasco? Nunca tinha provado uma picanha, um contra-filé maturado, pô! Churrasco é que nem preto, combina com tudo! E outra, a pior coisa que tem para as mães iniciantes são esses grupos de mães de facebook, whatsapp e etc onde todas tem uma vida de rainha, fazem festas milionárias e ficam ostentando... e tua filha não pode ficar pra trás! Ah, não pode! Tem que ter o raio da festa de um ano porque todas as filhas dos outros que tu nem conhece tiveram!
E lá fomos nós ver as casas de festas... Oba! Na primeira casa, se eu quisesse 4 horas de festa, teria que vender meu carro. Na segunda casa de festas era meu carro mais meu rim direito! E daí para baixo... vai vendo.
Aí ela veio com a excelente ideia:
Ela: "Cara, já sei! Nós vamos fazer a festa!!!"
Eu: "Oi?"
Ela: "Vou fazer as lembrancinhas, os doces, e tu vai me ajudar com o bolo!"
Nessa hora eu já estava online anunciando o meu carro no OLX, já aceitando a ideia da casa de festas...
Ela: "Amanhã mesmo vou comprar as pastas americanas, as forminhas, vou no mercado... vai ficar linda!"
E eu dando refresh no site do OLX de 2 em 2 segundos para ver se alguém tinha dado algum lance ou mandado mensagem... "Vamos lá gente, meu carro tá baratinho... comprem! Comprem!".
E isso faltando algumas semanas ainda para o aniversário... acho que até meses! Dava para fazer tudo com calma, dava para fazer três festas nesse tempo.
Mas ela fez?! Tu fez?! Alguém fez?! Faltando duas semanas, eu já achando que não iria mais ter festa, ela enlouqueceu! Chegou em casa um dia com 47 sacolas gigantes, cheias de forminhas, descartáveis, pastas americanas de todas as cores, colas, cartolinas, tintas, placas de EVA, corda, madeira, brinquedos, serpentinas, confetes, ferragens, penas, plumas, anões vestidos de palhaço...
Eu: "Que isso, cara!? Vai abrir uma creche ou um circo?! Por que que tu trouxe toda a Caçula pra dentro da nossa casa?! Tu deixou algo para as outras pessoas comprarem também?!"
Ela: "Pára de palhaçada, Razão! Daqui a pouco a galera vai chegar aqui para me ajudar nos preparativos!"
Eu: "Galera?!"
E não deu 15 minutos e começou a tocar a campainha! E de verdade chegou a galera... toda ela! O apartamento virou um ateliê! Uma oficina digna de uma escola de samba! Fizeram uma zona do caralho! Tinha gente cortando papel, gente colando papel, gente fazendo o lanche pra mais gente, gente no computador fazendo mais projetos de papel para mais gente cortar e colar. Era muita gente fazendo muita coisa! E todas as noites dessas duas semanas antes da festa e as 48h do fim de semana no meio foram dedicados a essa festa. Eram vários turnos, vários amigos, avós, parentes, vizinhos...
Nunca curti esse lance de artesanato e confesso que comecei a abrir mão (me negar) e não ajudar nas festas que se seguiram, porque não tenho paciência para colar tudo bonitinho nem cortar cada papelzinho do jeito que ela quer... fora que a Cecilia ainda vinha no final do "expediente" revisando o trabalho feito por geral! E já vi muitas vezes ela refazendo o que ela julgava estar fora dos padrões dela... deve ser uma merda ser perfeccionista!
Estávamos há algumas horas da festa... era a noite do dia anterior, geral esgotado! Estávamos só nós dois em casa, alguns amigos haviam acabado de sair da senzala e voltados para o tronco para descançar, quando vem ela, ô Jesuuuuus, vem ela:
Ela: "Pronto, agora só falta a gente fazer o bolo!"
Eu: "Perdão... Oi?"
Ela: "Vão ser 3 andares! Cada um vai ser de um bicho... vamos!"
Eu: "Cara, tu só pode estar de muita sacanagem! Mas muita mermo! Eu não vou a lugar algum contigo... quero o divórcio! Tu tem que agradecer a Deus que teus amigos ainda gostam de você! Não sei como que essa galera toda continua voltando aqui em casa, dia após dia, para cortar teus papeis, colar teus enfeites! É muito abuso! Não vou a lugar nenhum!!!"
E lá fui eu pra cozinha aprender o que era massa americana, o que que era um bolo fake e pedindo a Deus força para correr pra bem longe daquela psicopata!
Ficamos até as 3 da manhã cortando massa americana, cortando, colando errado no bolo de isopor e fazendo tudo de novo várias vezes até ela ficar satisfeita. Já não sentia meus dedos, meus olhos ardiam, já não diferenciava zebra de onça... mas até que ficou bonitinho no final. Depois de terminado entendi porque que esses bolos são tão caros! É que nem comida japonesa, vale cada centavo! Vai você fazer em casa... vai pagar rindo na rua depois o valor que for!
(foto do bolo quase finalizado)
E no dia seguinte descobri que ela havia mentido pra mim de novo, maluco! Não faltava só o bolo, não!! E eu trabalhei junto com os escravos até minutos antes do salão de festas abrir para receber os convidados. Eram quatrocentas bolas pra encher, dois mil enfeites para colar nas paredes mais 3 milhões para pendurar no teto, brazuentos milhões de centros de mesa para montar e taratrezentos bilhões e quaraquentos milhões de salgadinhos e docinhos para por nas formas.
"Shipáááá"! Escutei o chicote do senhor do engenho estalando ao longe... era hora de largar as ferramentas e ir pra casa se arrumar pois os convidados chegariam em breve. Chego em casa, tomo um banho e quando vou para o quarto escolher minha roupa, já tem um conjuntinho separado em cima da cama.... todo marronzinho pra combinar com SAFARI, com chapeuzinho e tudo do Crocodilo Dundee.
(Crocodilo Dundee, o original)
Sentei na cama, chorei... deitei e pensei em dormir ali, mas ela iria me achar. Então pensei em fugir pra casa dos meus pais, mas eles iriam me caguetar pra ela. Todos os amigos que moravam perto estariam na festa, então tinha que fugir pra longe, mas quem disse que tinha forças? Fiquei lindo de caçador... =/
(Crocodilo Dundee, do Aliexpress)
Chegando no salão, as duas primeiras mesas cheias de gente que eu nunca vi na vida! Achei que tivesse entrado no salão errado, pois tinha mais de um salão no condomínio. Dái olhei para a decoração e vi um monte de bagulho que eu tinha arrumado alguns minutos antes e ri, achando que aquela galera tinha entrado na festa errada... e era muita gente! Caguei! Entrei entrando e mais tarde descobri que eram amigos de trabalho da minha esposa... ainda fui taxado de antipático pela galera dela.Me falaram que a festa foi muito boa, todos elogiaram! Não sei dizer porque estava preocupado se a bebida era suficiente, se tinha mesa para todos, se estavam servindo direito, se o salgado estava frio, e quando sentei pra comer algo, era a hora do parabéns!
E aí eu vi uma parada que até então nunca tinha visto! Antes dessa festa, nunca havia ido em festa de crianças, ou se fui, provavelmente fiquei sentado longe da mesa do bolo enchendo o rabo de salgadinho, então nunca havia presenciado aquela cena!
A digníssima me chama (me arrasta), pega a Rafa no colo e vamos para o outro lado da mesa do bolo. Agora de frente pra geral, fico cego com todos aqueles flashes, é câmera, é celular, é filmadora... se aquilo me incomodava, coitada da Rafinha com 1 ano somente.
Apagam as luzes, começa o parabéns! Geral cantando, as crianças perto da mesa já cochichando uma com as outras, era certeza que estava falando merda ou planejando fazer. E quando acaba o "rá-tim-bum", já levo a Rafa pra perto do bolo para assoprar a velinha quando começa um tal de "Derrama Senhor"... e calma, ainda teve o parabéns da Xuxa, da Angélica, do Patati Patatá, do Bozo, Carequinha, Eliana, do Dominguinhos do Estácio... depois de umas duas horas, meu braço já dormente de segurar o tourinho, acabou! As luzes se acendem e é aí que começa a cena que eu comentei lá em cima!
Começa um empurra-empurra, uma agitação fora do normal... segurei minha filha forte, tentando protegê-la, e lembro de ter falado algo com a Cecilia, perguntando quantos dias aquelas crianças estavam sem comer, porque atacavam os docinhos e lembrancinhas com violência. E no meio daquele alvoroço, me aparece uma senhora bem "fortinha" (espero que ela não esteja lendo isso, mas se estiver, que devolva tudo que ela pegou) e vai atropelando as crianças e nessa hora quem pegou, pegou, meu amigo! Ela já veio com um guardanapo aberto na mão e começou o serviço de dragagem... pegou tudo no raio dela e ia empilhando no guardanapo para depois fazer uma trouxinha. Depois voltou correndo lá pra trás, fugindo da muvuca! Do nada ouço um barulho de papel rasgando e vi um moleque tentando levar um bicho de pelúcia que estava colado com fita crepe e fazia parte da decoração. Pego um brigadeiro e jogo na testa dele, ele me olha puto e eu falo que o urso polar que ele estava tentando arrancar da mesa era da coleção de bichinhos de pelúcia da Parmalat que eu comprei um lote de usados no Mercado Livre só para a festa, e a festa era toda com eles. E não eram brindes! E vou olhando assutado e vendo adultos se estapeando para pegar as lembrancinhas, como se fossem as últimas DO MUNDO! E lá do fundo eu vejo o Juggernaut voltando, as criancinhas abrindo espaço para ela, a vovó enfurecida, cega por doces, agora com uma sacolinha plástica do Mundial! E vai brigadeiro, cajuzinho, beijinho de coco... tudo pra dentro do saco da velha, que aliás, não era conhecida minha nem da Cecilia. De onde diabos saiu aquela velha?!
Cecilia: "Fod**! Vai dar merda! As lembranças estavam contadas! Vai ter criança sem... tem criança que pegou 3, 4..."
Eu: "É sempre assim?"
Cecilia: "Não sei... é a minha primeira vez também!"
Eu: "Se fosse churrasco não passaríamos por isso..."
Cecilia: "Faz alguma coisa!"
Eu fiz. Com a Rafa ainda no meu colo, saí dali! E em exatos 2 segundos, já não tinha mais nada na mesa! Só o urso polar que eu salvei, todos os outros bichos foram extintos! Todos os doces, lembrancinhas, itens de decoração... tudo se foi... duas semanas de trabalho pesado. Horas e horas que se foram em apenas doooois segundos!
E para a minha surpresa, muitos dos amigos que ajudaram a fazer aquele festa ainda ficaram até o final e ajudaram a arrumar tudo. Tudo bem que não tinha quase nada para arrumar, eram só as mesas, cadeiras e docinhos pisados no chão, pois a velha e os desnutridos levaram todo o resto!
(Aqui fica um agradecimento especial ao casal Celice e Otavio Pettersson pelas fotos)
E assim foi nossa primeira experiência com festas infantis... eu aprendi com o erro, já ela... Todo ano se envolve nas festas dos nossos filhos e agora, não satisfeita, se envolve com a dos filhos dos outros! Alguém pára essa mulher?!
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A-DO-REI!!!! Morrendo de rir, enquanto aguardo a minha audiência e as pessoas em volta me olhando!!
ResponderExcluirHAHAHAHAHAHA =P
ExcluirTá maneiro, mané! Parabeńs.
ResponderExcluirValeu, Felipe!
ExcluirQue saga hein Crocodilo Dundee!!! Acho que essa velhinha come-doces já apareceu por Jacarepaguá.
ResponderExcluirTem uma galera que me falou a mesma coisa! Que essa velha já apareceu no aniversário de muita gente! Quem tiver selfie com ela aí me manda que eu posto a cara dela aqui!
ExcluirMuito bom!!!! Me chama na próxima que eu ajudo a botar ordem. Kkjj
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