segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
PARTO… MOMENTO MÁGICO?
Outro dia me perguntaram se eu vi o parto dos meus filhos, se eu presenciei esse “momento mágico”. Respondi: “Mágico? Ô… “.
Aaaah, o parto… ouvi muito antes de passar por isso, mas o que me marcou foi o tal “momento mágico”! MO-MEN-TO MÁ-GI-CO! O infeliz que fala isso se acha entendedor porque assistiu alguns episódios do “Boas Vindas” do GNT, só pode. Aposto que nunca presenciou o momento pré-parto nem o parto em si… ao vivo… a cores (muitas cores)… e o áudio? O áudio do exorcismo de Emily Rose ia parecer Mary Poppins comparado com o áudio de um parto normal… vai vendo.
03h14 AM
Ela: “Zão, acorda… me mijei…”
Eu: “Oi?”
Ela: “Sério… muito!”
Eu: “Quer um balde, uma fralda, papel?
Ela: “Cara, a bolsa!”
Eu: “Quer que eu pegue o que nela?”
Ela: “A bolsa, filho da p***! A bolsa estourou!”
Aí chora… por mais que digam que da tempo da mulher tomar banho, se maquiar, que ainda tem bastante tempo, já acende a luz que tu vai sair em dois de casa e voltar em três…
Enquanto tu demora pra achar a chave do carro que sempre esteve em cima da mesa e especialmente hoje não está, ela já tá ligando pra obstetra que já liga pra equipe e quando tu chegar na clínica, geral já vai estar lá feliz, te esperando… vai sim… valeeeeeu!
Aí tu chega na clínica:”Boa noite, estou com a Cecilia, a bolsa estourou, a obstetra já deve ter ligado pra cá avisando…”
Atendente: “Boa noite, senhor (bocejando). Carteirinha do convênio…
Eu: “Oi? A bolsa estourou, já já vai dar ruim aqui, não tem como pular essa parte não? Minha filha, tá nascendo!”
Atendente: “Carteirinha do convênio… e vou precisar que o senhor preencha esse formulário aqui enquanto eu vejo se tem quarto disponível… e senhor, depois de ler tudo, favor rubricar as páginas 7 e 8 e assinar na 15.”
Senti a mão de Deus na minha cabeça nessa hora e juro que ouvi bem baixinho um “não matarás…”
Enquanto isso a Cecilia tá ali, se contorcendo a cada contração, fazendo aquela respiração frenética, sentindo dor… vai vendo!
Depois de uns 20 minutos, conseguimos um quarto. Nada da equipe chegar! Ela é encaminhado para um ultrassom para ver se o bebê está bem e toma de contração!
Uns 30 minutos depois chega a obstetra junto com uma auxiliar, faz algumas perguntas de praxe e diz que o anestesista (logo ele) vai demorar um pouco porque está vindo de Caixa Prego.
E toma de contração! E tu lá do lado dela fingindo que é forte… segura na mão, manda uma gracinha fora de hora pra descontrair e acaba piorando… vai vendo.
Volta a obstetra, manda ela subir pra uma pré-sala-de-não-sei-o-que e sai com ela numa maca. Tu vai acompanhando ao lado, ninguém no hospital, só a gente. Ai vem uma baixinha toda de azul lá do final do corredor, espera eu passar com a Cecilia na maca, me da um embrulhinho e fala: “Pai, entra naquela porta ali e vai se trocar. Tira a roupa toda e coloca isso”. Serinho, quando eu senti o peso do embrulhinho, achei que fosse só aqueles sapatinhos escrotos que sempre que tu calça (nós, que calçamos 45 ou mais) arrebenta a ponta ou rasga a lateral logo na primeira tentativa. Mas era a roupa toda até com a bandana. Ar-condicionado bombando, um frio do caralh*, tu com o sapatinho rasgado, de bandana ridícula e uma roupa mais fina que UMA face do Neve dupla-face… assumo que tive vergonha de sair daquele trocador assim! Abri a porta com calma, pra ver se tinha movimento no corredor (não ia sair se tivesse). Quando coloco a cabeça pra fora pra ver mais do corredor, ouço a Cecilia gritando de dor ali por perto. A vergonha fica menor e eu saio arrastando o pé (porque se levantasse pra andar aquela merda de sapatilha escrota saia do pé) e vou me guiando pelos gritos de dor até achar a sala… vai vendo.
Chegando lá, ela estava com um balde ao lado, pois havia acabado de vomitar de tanta dor. Aí eu: “Cadê o anestesista?!”. Alguém me respondeu que ele estava no caminho e eu já rezando para o cara ser maior que eu, porque se for menor vou tampar ele de porrada!
Depois de alguns minutos, a obstetra acha que não vai ter como esperar mais e vai geral pra outra sala, a definitiva.
As contrações aumentam, a dor é mais forte… do nada entra um coroa com a mesma roupa escrota que eu, com a mesma bandana (mas o sapatinho dele não estava rasgado), rindo e fazendo piadinhas… era o anestesista…
Senti novamente a mão de Deus na minha cabeça nessa hora e juro que ouvi bem baixinho um “não matarás…”, juro pra vocês!
Ele vem com uma maletinha cheia de agulhas, seringas e enquanto prepara tudo, falava do absurdo que ele pagou de imposto de renda. Ele pede pra Cecilia ficar de lado e quietinha, porque vai dar uma injeção na coluna e não pode se mexer… mas cara, era tanta dor que ela não conseguia ficar parada. Quando a contração vinha, ela tremia toda. Na primeira tentativa, ela se mexe, volta o sangue pela seringa e ele dá uma bronca nela falando que se ela continuar se mexendo, ele não vai conseguir aplicar a anestesia. Ele estava na minha frente, só o que separava nós dois era a Cecilia encolhida, de lado, na maca. Quando eu ouvi a bronca, eu olhei pra baixo, encarando o coroa nos olhos e esperando que Deus colocasse a mão na minha cabeça, mas não senti nem a mão nem ouvi nenhuma voz… acho que nessa hora Deus estava era falando com ele: “Vovô, pára de gracinha, faz teu serviço quietinho, se ela tá com essa dor toda é porque tu chegou atrasado. Fica na disciplina aí porque eu vim só pra trazer uma vida e não pra levar outra…”
Acho que o coroa entendeu o recado. Ele conseguiu na segunda tentativa, mas já era tarde… Alguém gritou que já estava vendo a cabeça, que era pra Cecilia fazer força, e nesse hora eu pedi muito para que ela não sentisse mais dor, ou que não sentisse tanta. No meio das contrações, vontade de matar o anestesista, querendo que fosse rápido pra acabar com a dor dela, eu vi a cabeça da Rafa, parecendo um cone, deformada, com bastante cores. Em frações de segundos eu me perguntei se ela iria ficar com essa cabeça de cone pra sempre ou era normal isso. Dois segundos depois eu vejo a obstetra fazendo um movimento que a minha pressão eu acho que baixou nessa hora e subiu rapidinho… imagina vc fazendo o sinal de “V” da vitória com os dedos, nas duas mãos. Junte a ponta dos “V’, juntou? Imagina a cabeça da Rafa de um lado, pescoço no meio dos “V”s e o corpo ainda dentro do corpo da Cecilia do outro lado, foi? Agora vai puxando pra cima e pra baixo, é isso mesmo, vai puxando… fazendo força mesmo… foi? Foi nessa hora que eu perdi o medo de segurar criança no colo! Eu pensei: “Cara, se minha filha sobreviver a isso, o resto é pinto!”. Quase ofereci um pé-de-cabra… vai vendo.
Saiu!!! E quando sai, amigo… quando sai vem muita coisa junto!!! Vem bebê, placenta, cordão, uma água suja pra caralh*, sangue, cocô (Rafaela nasceu cagando e continua fazendo merda até hoje). E cadê os sinos? Aquela luz angelical? Talvez a Cecilia tenha visto e ouvido, pois ela disse depois que a dor parou na hora depois que a Rafa saiu. Vi um bebezinho todo enrugado, sujo, roxo… e aquela cabeça de cone? E o choro? Roxo e sem chorar… deu ruim, cara! Deu ruim pra caralh*! Tu nao sabe se pega a criança, se bate no anestesista, se sai correndo… Aí vem a pediatra, pega a criança de qualquer jeito, reafirmando a teoria de que bebê não quebra, e enfia uns canudinhos de uns 30cm em cada narina! Foi pra fechar caixão né? Esfrega toalha na cara, assopra… um total esculacho!
Opa! Um chorinho baixinho… a cor foi voltando ao normal. Olhei pra Cecilia, vi um sorriso. O primeiro depois que as contrações haviam começado naquela noite. Opa! O chorinho aumentou… aí eu vi a minha cabecinha de cone já meio limpa, mais branquinha, cheia de escaminhas branca na pele, olhinhos querendo abrir… a pediatra traz pra perto da gente, a auxiliar bate uma foto, levam a criança embora… Porra, esperamos 9 meses, deixa só mais uns minutinhos, cacete! Aí me falaram: “Pai, acompanha a criança até o berçário, por favor”. E tu larga tudo e vai porque tu já ouviu muito aquele papo de criança trocada na maternidade, rapto e o cacete… embora eu achasse que ninguém iria pegar a minha cabecinha de cone, vai que tem um monte de cone mais cone que o meu lá embaixo? Fui lá, junto, sem piscar… e aí, já saindo do lado da Cecilia, passando na altura do desastre, olhei pra trás… aaaaaah meu erro… meu camarada, que visão (do inferno)! Aquela coisinha linda, que tu conhecia bem… já não reconheci mais nada!! Nada!!! Tudo do avesso! Cores! muitas cores! Cordão pendurado, pressão baixou de novo, voltou ao normal, já não sabia se ria, se chorava, se me despedia ali mesmo da patroa… A obstetra costurando o que eu achei que era perda de tempo na hora, porque pra mim foi P.T.! Lembro de ter voltado até a obstetra e falado: “Doutora, posso te pedir um favor? Quando terminar, dá mais um pontinho?”. E ela: “Sai daqui pai! Não está ajudando!”.
E mais uma vez senti a mão de Deus na minha cabeça nessa hora e juro que ouvi bem baixinho um “na saúde e na doença…”
E aí foi a deixa para eu descer e acompanhar o meu conezinho. E de tempos em tempos eu olhava a pulseira para ver se não tinham trocado… ainda neurótico com o bagulho de bebês trocados na maternidade.
Foi mágico? Quando penso em magia, me vem a cabeça algo à la Disney… e não lembro de ver tanta dor, agonia, aflição em nenhum conto da Disney… mas fazendo uma análise mais profunda e com uma certa boa vontade, foi mágico sim! Depois daquela sujeirada toda, nasceu a minha Rafa… perfeita! O formatinho de cone foi embora em alguns dias, beleza?
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